domingo, 20 de março de 2011

Zumbis - Moda de terror e ferramentas para modelagem de infecções


Prezados Padawans, mais uma atualização nesta bagaça. Desta vez, um post estilo "estudo de caso". Faz dois anos que eu estava no laboratório e alguém me mostrou um capítulo do livro Infectious Disease Modelling Research Progress, intitulado, sem brincadeira: When Zombies Attack!: Mathematical Modelling of an Outbreak of Zombie Infection.


Não, não é Zumbi dos palmares.


O trabalho de matemáticos e estatísticos canadenses ainda começa de forma inacreditavelmente séria. A introdução nos coloca as origens das histórias de zumbis, desde a etimologia, mitos africanos, até as produções modernas do cineasta George Romero e jogos de video-games da Capcom.


E não, não é Cesar Romero.


Os autores então se focam no tipo de zumbi mais atual, lerdo e babaca, com sua origem de alguma infecção biológica. Segundo os autores, o modelo deve assumir um tipo de zumbi mais amplamente usado possível, para que o mesmo não se foque em tipos específicos e pouco difundidos na cultura pop.


Se fizessem modelagem de dinâmica de transmissão do vampirismo, certamente não usariam vampiros deste tipo. Sorry, girls.


Os autores então seguem com a metodologia. A construção das equações é uma parte divertida a mais no trabalho.


Hieróglifos?


O termo S diz respeito à população dos suscetíveis aos zumbis (os vivos), Z à população de zumbis e R aos removidos (algo como "zumbis mortos", mas sem soar redundante). Há outros fatores, como a probabilidade de alguém vencer um zumbi em um confronto, atirando em seu cérebro, ou arrancando sua cabeça; há a probablidade de se morrer por mortes "não zumbis" e a probabilidade de uma pessoa curada morrer naturalmente (isso a tornaria uma zumbi). Todos estes fatores implicam em variações na quantidade de suscetíveis, zumbis e curados em um segundo momento. Estas equações ajudam a predizer como a população será em algum momento no futuro.


Os modelos não levam em consideração que nós contamos com Rick Grimes e sua machadinha - Walking Dead #3.


O trabalho continua criando modelos com várias premissas, como infecções sendo latentes, quarentena e até com uma possibilidade de cura. Não vou abarrotar o post com equações, podem se acalmar.


Este gráfico é o mais otimista do trabalho... Pior que filmes do George Romero.


A conclusão que os pesquisadores chegam, é que, mesmo que haja uma cura, o único modo de prosperarmos é se acabarmos com o problema de uma vez, em uma geração. Isso porque as mortes naturais e por outros motivos do nosso lado, só aumentariam o número deles, já que o vírus/bactéria/patógeno genérico é transmitido por pessoas mortas. Isso, é claro, torna o modelo fantasioso demais para doenças reais, já que essa idéia de que, quanto mais pessoas mortas existirem, mais a doença se propagará, é difícil de encontrar contraponto realista. Mas o trabalho serve para mostrar que, mesmo em doenças fictícias, o único modo de se evitar a pandemia é o esforço conjunto de todos aqueles que podem ser suscetíveis, bem como de outras nações.

Para o blog, o artigo serve para mostrar que a modelagem matemática traz possibilidades de criar cenários que não vemos (como passado geológico, ou futuro com mudanças climáticas), observando como as ferramentas biológicas (a grosso modo: os bichos) respondem nessas realidades.


Seria como mandar um animal ameaçado de extinção para a Matrix e vê-lo lutando Kung Fu.


A modelagem em pesquisas parasitológicas e conservacionistas vem se mostrando uma excelente ferramenta. Os jovens estudantes costumam ter medo de ler coisas sobre o tema quando começam a ver as equações. Só há um modo de contornar este problema: lendo o trabalho. Se você ler desde o início até chegar na equação, vai compreender que os hieróglifos são só representações sintéticas das idéias que os autores estão dizendo em alguns parágrafos, incluindo ainda a beleza da matemática.

Quem acha matemática uma coisa bonita, deve levar a sério um trabalho com matemática e zumbis.

Algumas das referências bibliográficas que os autores usam são inacreditáveis para quem já está acostumado com trabalhos acadêmicos e a exigência de citação de artigos científicos. Vejam vocês mesmos alguns exemplos:

Brooks, Max, 2003 The Zombie Survival Guide - Complete Protection from the Living
Dead, Three Rivers Press, pp. 2-23.

Romero, George A. (writer, director), 1968 Night of the Living Dead.

Capcom, Shinji Mikami (creator), 1996-2007 Resident Evil.

Capcom, Keiji Inafune (creator), 2006 Dead Rising.

Pegg, Simon (writer, creator, actor), 2002 Shaun of the Dead.

Boyle, Danny (director), 2003 28 Days Later.

Snyder, Zack (director), 2004 Dawn of the Dead.

"Peraí, mãe! Tô fazendo meu levantamento bibliográfico!"



Lucas Skywalker é um biólogo que não gosta de filmes e jogos de zumbis, mas que acha divertido difundir o tema, mesmo que lhe tome preciosas horas que poderia utilizar para organizar sua aula de qualificação.

PS: Tenho que agradecer especialmente ao Dr. Bruno Chewbacca por ter me apresentado o trabalho em questão e me ensinado a beleza da matemática na ecologia.

7 comentários:

  1. Essa bibliografia é a mais inacreditável da história!
    Parabéns Minhoca, continue aí com o blog!

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  2. Texto bem bacana pra variar. Deixa de ser bicha e posta mais aí.

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  3. Btf q esse assunto é MTO importante, inclusive vc ja ta por dentro da Estratégia-Bisol de sobrevivencia pós-apocaliptica, ne??
    Afinal a gnt sempre tem q ta preparado p/ acontecimentos assim
    http://www.365halloween.com/halloween-decor/in-case-of-zombies.php
    kkkkk
    E só aproveitando o tema, saca só q trailer bem feito d um jogo q ainda vai ser lançado
    http://www.youtube.com/watch?v=lZqrG1bdGtg

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  4. A estratégia Bisol já é clássica! uaheuhaeuaheuae! E valeu pelos links, Renato.

    Abração!
    =)

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  5. Conclusão 1.
    A criatividade e a imaginação são fundamentais na ciência.

    Conclusão 2.
    Escrever um artigo pode ser divertido.

    Conclusão 3.
    Se um dia houver uma infecção zumbi, tamo todos fudidos...
    xD

    Abração procês!

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  6. E a gente ralando com essas agências de fomento pra ganhar uma bolsa numa pesquisa SÉRIA!
    USA gogogogogogog financiar minhas pesquisas!

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  7. Achei a pesquisa muito lúdica.

    Ciência e diversão.
    Ciência é diversão.

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