quinta-feira, 9 de junho de 2011

Superbactérias: perigos da hipocondria

Hoje a moda é lutar contra umas pestes malditas que não são vistas por ninguém a olho nu mais: as bactérias.

Bactérias colonizam nosso planeta desde, hmmm, sempre! Os primeiros seres vivos descendentes dos coalescentes de matéria orgânica são seres bem parecidos com as arqueobactérias hoje presentes no grupo das Arqueas, de acordo com a nova classificação de procariotos.

Esses organismos vieram evoluindo há mais de 2,7 bilhões de anos, dispondo de bastante tempo livre para evoluir e se adaptar a todos os ambientes possíveis e inimagináveis até os mais insalubres como vulcões submarinos, o mar morto e lagos subterrâneos congelados na Antártida.


Além da sua boca, é claro.

Para onde você olhar, as bactérias estarão lá, inclusive nos ensinando que o que sabemos até sobre nosso DNA não é tão certo assim, já que algumas espécies possuem o elemento arsênio (aquele mesmo que se transforma no veneno arsênico) como parte integrante de sua estrutura genética. Por causa dessas incríveis capacidades de adaptação e colonização o nosso corpo também está repleto desses serzinhos microscópicos mais ou menos numa taxa de 10 bactérias para cada célula, (http://www.sciencedaily.com/releases/2008/06/080603085914.htm) o que dá um novo conceito ao termo colônia de (férias) bactérias.



Ou seja...

E todo mundo vivia feliz com isso. As bactérias eram tratadas como aqueles programas de caráter não sexual que passam na madrugada: Sabemos que existem, pouca gente já viu e ninguém se importa se eles ainda estão lá. Porém isso agora mudou: Há uma onda de assepsia exagerada que vem tomando conta do ocidente pelo menos. Tudo agora é bactericida: Antisséptico bucal, sabonete, xampu, produtos de limpeza e agora aditivos para lavar a roupa, pois nada pior para manchar uma roupa que as incrivelmente visíveis bactérias! E de onde vem essa paranoia (sim, sem acento) toda? Do lugar onde todas elas vem. De um lugar onde mesmo estando a 10.054 Km do Japão, ficaram todos alarmados com o perigo de contágio com a radiação (o estranho é que o Havaí e a Ilha da Páscoa que estão bem mais perto não pensaram nisso): Os EUA.

O excesso de uso de produtos bactericidas só serve para atrapalhar e criar bactérias resistentes a esses mesmos agentes que agora prometem deixar sua pele mais livre delas do que a TV globo e as propagandas da Johnson & Johnson de personagens negros.

Como esses produtos atrapalham? É que de toda essa imensa colônia que reside em você agora mesmo (e está um pouco maior agora se você acabou de pegar um ônibus lotado) praticamente nenhuma irá lhe causar mal, salvo algumas que são oportunistas e que atacam se sua imunidade baixa. Perdendo essa colônia, você fica vulnerável a conquista de bactérias realmente patógenas, abrindo a porta para doenças como as superbactérias dos hospitais. Muitas dessas superbactérias são na verdade bactérias da pele que por força da mutação começaram a causar doenças e ficaram resistentes a todo tipo de antibiótico. E a pior parte é que algumas delas, as “devoradoras de carne humana” tem mais apetite por carne que aquele seu tiozão que é fã dum churrasco de fim de semana.


Todo mundo conhece bem um desses.

Pense bem então antes de usar esses produtos que prometem eliminar sua querida microbiota bacteriana. Não faça como sua última visita a uma lanchonete de aspecto duvidoso. Não troque o que já é certo pelo duvidoso!



Mestre Gláucio Kenobi é um biólogo meio agrônomo que gosta de compartilhar nerdices com jovens estudantes desde a época em que Lucas Skywalker era calouro.