quinta-feira, 10 de maio de 2012

Tragédia do egoísmo

Saudações, padawans! Alguns séculos longe do blog estavam me deixando triste. Agora que sou realmente um mestre jedi, consigo arranjar algum tempinho para deixar alguns textículos para alegrar suas tardes de procrastinação virtual.


Mas infelizmente ainda não vai ter pornografia, cara...

Resolvi fazer uma discussão de um assunto mais sério. Ultimamente, a população em geral... tá, não tão em geral assim... para efeito de ilustração, vamos considerar o termo população = internautas (o que está longe de ser verdade, com uns 5 bilhões de pessoas sem acesso a isso, e talvez metade desse grande número sem acesso a água potável). Voltando ao assunto, a população em geral, pelo menos no Brasil, se divide em dois grandes grupos quando o assunto é um problema ambiental qualquer:


Os que acham que esse cara é um super-herói (ou um dovahkiin, exibindo um Fus Ro Dah pra moçada)


E os que acham que esse cara é um super-herói (um imitador nato do Chico Anísio)

Me atrevo a dizer que essa polaridade forçada não é uma exclusividade desse tipo de discussão. A maioria das discussões políticas/éticas também forma extremos (revoltas na USP, ocupação de Pinheirinho), e a principal razão pela qual as pessoas passam a idolatrar um lado ou outro, negando argumentos do outro lado como uma criança teimosa, é a ignorância. A falta de conhecimento sobre o assunto acaba fazendo com que a "população" preguiçosa não pense por si própria, não pesquise em diversas fontes, não use a internet como a ferramenta maravilhosa que é. Ao invés disso, acabam escolhendo um discurso de algum extremista que se identificam, e perpetuam ignorância e falta de argumentos em progressão geométrica nas redes sociais.


Tipo isso, só que marrom.

Este texto não vai ser sobre o código florestal em si, nem vou colocar aqui dados que corroboram a grande merda que estamos fazendo de diversas formas com as outras espécies do nosso planeta e com nós mesmos em um futuro próximo. Neste texto eu vou contar uma história que diz muito sobre as raízes de todos os problemas de conservação que enfrentamos hoje, sendo basicamente um exemplo e minha opinião (compartilhada com muitos cientistas, como o Jarred Diamond) sobre o assunto.

Em 1968, Garrett Hardin publica na revista Science o paper "The Tragedy of the Commons" (podendo ser lido clicando aqui). Neste paper, o autor cita a "tragédia das áreas comunais" ou "tragédia dos comuns", inicialmente pensada por William Foster Lloyd. A história é basicamente a seguinte:


Senta que lá vem história...

Nas áreas rurais da Inglaterra do século XIX, existiam algumas terras chamadas de áreas comunais (os commons), em que várias famílias usavam da mesma terra para criar seu gado. Vamos supor que existam 1000 famílias morando em uma área comunal, e que cada família pode criar apenas uma vaca. Um fazendeiro mais esperto poderia pensar que se ele criar mais duas vacas, ele triplicaria seus lucros e o resto do pessoal não seria muito prejudicado, afinal, em uma área que "cabem" 1000 vacas, "cabem" 1002. O que o esperto acaba não se dando conta, é que é bem provável que outras pessoas tenham a mesma idéia. Se metade dos pecuaristas pensarem assim, então a terra teria que lidar com 2000 vacas (500x1 + 500x3 = 500 + 1500 = 2000), o dobro da capacidade "ótima" da terra. Em pouco tempo, as terras enfrentariam sérios problemas de desertificação, as famílias teriam cada vez mais dificuldade de produzir e entrariam em colapso (talvez migrariam para as grandes cidades, viveriam em áreas de risco, não teriam empregos formais... mas esse é assunto para outro texto).

O que pode ser generalizado aqui para a origem de quase todo problema ambiental é simples: individualização de lucros e coletivização de prejuízos. O lucro das vacas extras vai só para o fazendeiro que adotar essa medida, e é um grande lucro (triplicado, no exemplo). Entretanto, o prejuízo vai diluído para toda a população (no caso de outros problemas, também vai para outras espécies em geral). A idéia de que "sou só eu mesmo, não fará mal" é extremamente limitada e imediatista. A curto prazo, talvez o fazendeiro não sinta o prejuízo, mas dependendo a intensidade da destruição causada, o efeito vai ser sentido mais cedo ou mais tarde. Podemos usar outros exemplos, como o quanto de dejetos orgânicos que um corpo d'água consegue receber, e que algumas fábricas começarão a despejar mais do que o permitido (se livrando dos gastos de ter que despejar em um local apropriado), levando o ambiente à eutrofização. É claro que a linguagem que estou usando aqui (lucro x prejuízo) é a que a "população" gosta de ouvir. Um evolucionista como eu com certeza não enxerga a si mesmo separado da natureza. As espécies devem existir pelo simples direito de existir que todos temos, não cabe a nós cortar toda uma linhagem da face da Terra. Além disso, claro, há as inúmeras vantagens da biodiversidade e da floresta para a qualidade de vida humana e para o avanço da ciência como um todo.


Ilustrado acima: Toda a nossa superioridade.

Outra questão que a tragédia dos comuns nos mostra, essa talvez mais assustadora, é o crescimento populacional como um problema inevitável. Na época do paper do Hardin, não existiam países cuja taxa de crescimento era mínima de forma benéfica (taxa de natalidade = taxa de mortalidade, ambos baixos). Hoje alguns países europeus têm taxas de crescimento negativas até. Mas mesmo assim, a taxa de crescimento da população humana no mundo é alta. Um problema grande é o fato de que a maioria dos países do mundo possúem taxas de crescimento altíssimas, ou estão chegando a valores baixos, mas de forma ruim (taxa de natalidade = taxa de mortalidade, ambos altos), uma estabilidade alcançada com os piores índices de qualidade de vida.

Algo que a tragédia nos alerta sobre o crescimento populacional, é que é impossível querer que o mundo todo tenha um estilo de vida esbanjador. Os recursos do nosso querido planeta são limitados. Os norte-americanos são 1/25 da população mundial, mas consomem 1/3 da energia produzida no mundo. Logo, pode-se concluir que é impossível que todo o mundo tenha um padrão de vida norte-americano (talvez em um futuro em que a população mundial alcance um equilíbrio benéfico e seja bem menor do que é hoje).


Eu juro que não estou propositalmente sacaneando gordos nesse post.

Uma coisa que me leva a pensar a partir disso é: Por que querer um estilo de vida assim ou assado? Vemos repetidas propagandas de automóveis no horário nobre e fica claro que a "população" compra um, dois ou três desses carros por uma mera necessidade de se afirmar. A imensa maioria das propagandas não evidencia as funcionalidades do veículo, ficando restrita a mostrar um vizinho esnobando o outro, um ator babando no carro do amigo, um otário com uma mulher-objeto muda (e estúpida). E essa "população" compra caminhonetes de três toneladas de puro metal pelo simples prazer de achar que suas calças ficaram alguns centímetros cúbicos mais apertadas.


Se ainda fosse o carro do Blade Runner...

Este não é um texto socialista, ou capitalista ou qualquer "ista". É só uma constatação de algo que muitos cientistas já sabem: é impossível nivelar o mundo por cima, é impossível sustentar nosso planeta com 7 bilhões de pessoas se amontoando querendo mostrar para o amigo como seu tênis feito por chineses paupérrimos é legal (não preciso comentar a energia gasta para transportar estes produtos do outro lado do mundo, nem da condição de trabalho dessa galera). A nossa maravilhosa tecnologia engenhosa (que depende de ciência de base, algo cada vez menos interessante aos olhos do poder público) pode parecer a luz no fim do túnel. Temos internet na palma da mão, gps, cirurgias de ponta e transgênicos super-produtivos. Aí é só lembrar que a grande maioria do planeta não tem acesso a nada disso, uma realidade que parece distante e invisível para a "população" do facebook. Como diria o professor Fernando Fernandez em seu livro "O Poema Imperfeito": "o espectro de Malthus está vivo, e olha para você pelo vidro do carro no semáforo".

Pode parecer clichê, mas essa questão do ter e do ser tem mais implicações negativas do que imaginamos. A vida é intensa e complexa demais para depositar sua felicidade em produtos manufaturados e em inveja gerada em seus semelhantes. Se você consegue encontrar satisfação ouvindo música, rindo com os amigos, andando de bicicleta ou de cavalo, praticando algum esporte, assistindo filme, lendo um livro, beijando alguém que você gosta, por que cultivar incessantemente a necessidade de se afirmar para as pessoas que você tem muitas coisas e que por isso você é fodão? Essa visão é incompatível com um planeta duradouro. Temos que fazer concessões, abrir mão de liberdades. A falsa noção de que podemos ser completamente livres, inclusive para arriar as calças na caixa d'água terá de ser abandonada.

Para finalizar, sobre o código florestal, vou deixar aqui dois vídeos do Pirula, um sobre a importância da floresta do ponto de vista humano (imediatista e funcionalista, para convencer população do facebook) e um outro sobre o histórico e os impactos do código florestal em si. Ele deixa muitas referências disponíveis, o que agrega informação nos vídeos e não fica somente como um cara falando o que dá na telha como se vê por aí (ou como eu fiz aqui, mas deixei claro desde o início que seria um texto de opinião).

Espero ler opiniões variadas nos comentários. Esse é um assunto que merece mais que um "Legal" ou "Seu ecochato de merda". Entretanto, acho que podem xingar a vontade, vamos honrar liberdade de expressão. Só não garanto nada se algo acontecer à sanidade de quem chegar aqui pra trollar...


Trolls são parte fundamental da dieta do Cthulhu...

Vídeos do Pirula:


Vídeo do Jarred Diamond (clicar em subtitles para buscar a legenda):




Lucas Skywalker é um biólogo mestre em entomologia que aproveita a sua falta de bolsa e de qualquer fonte de renda para tirar as teias de aranha do blog.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Superbactérias: perigos da hipocondria

Hoje a moda é lutar contra umas pestes malditas que não são vistas por ninguém a olho nu mais: as bactérias.

Bactérias colonizam nosso planeta desde, hmmm, sempre! Os primeiros seres vivos descendentes dos coalescentes de matéria orgânica são seres bem parecidos com as arqueobactérias hoje presentes no grupo das Arqueas, de acordo com a nova classificação de procariotos.

Esses organismos vieram evoluindo há mais de 2,7 bilhões de anos, dispondo de bastante tempo livre para evoluir e se adaptar a todos os ambientes possíveis e inimagináveis até os mais insalubres como vulcões submarinos, o mar morto e lagos subterrâneos congelados na Antártida.


Além da sua boca, é claro.

Para onde você olhar, as bactérias estarão lá, inclusive nos ensinando que o que sabemos até sobre nosso DNA não é tão certo assim, já que algumas espécies possuem o elemento arsênio (aquele mesmo que se transforma no veneno arsênico) como parte integrante de sua estrutura genética. Por causa dessas incríveis capacidades de adaptação e colonização o nosso corpo também está repleto desses serzinhos microscópicos mais ou menos numa taxa de 10 bactérias para cada célula, (http://www.sciencedaily.com/releases/2008/06/080603085914.htm) o que dá um novo conceito ao termo colônia de (férias) bactérias.



Ou seja...

E todo mundo vivia feliz com isso. As bactérias eram tratadas como aqueles programas de caráter não sexual que passam na madrugada: Sabemos que existem, pouca gente já viu e ninguém se importa se eles ainda estão lá. Porém isso agora mudou: Há uma onda de assepsia exagerada que vem tomando conta do ocidente pelo menos. Tudo agora é bactericida: Antisséptico bucal, sabonete, xampu, produtos de limpeza e agora aditivos para lavar a roupa, pois nada pior para manchar uma roupa que as incrivelmente visíveis bactérias! E de onde vem essa paranoia (sim, sem acento) toda? Do lugar onde todas elas vem. De um lugar onde mesmo estando a 10.054 Km do Japão, ficaram todos alarmados com o perigo de contágio com a radiação (o estranho é que o Havaí e a Ilha da Páscoa que estão bem mais perto não pensaram nisso): Os EUA.

O excesso de uso de produtos bactericidas só serve para atrapalhar e criar bactérias resistentes a esses mesmos agentes que agora prometem deixar sua pele mais livre delas do que a TV globo e as propagandas da Johnson & Johnson de personagens negros.

Como esses produtos atrapalham? É que de toda essa imensa colônia que reside em você agora mesmo (e está um pouco maior agora se você acabou de pegar um ônibus lotado) praticamente nenhuma irá lhe causar mal, salvo algumas que são oportunistas e que atacam se sua imunidade baixa. Perdendo essa colônia, você fica vulnerável a conquista de bactérias realmente patógenas, abrindo a porta para doenças como as superbactérias dos hospitais. Muitas dessas superbactérias são na verdade bactérias da pele que por força da mutação começaram a causar doenças e ficaram resistentes a todo tipo de antibiótico. E a pior parte é que algumas delas, as “devoradoras de carne humana” tem mais apetite por carne que aquele seu tiozão que é fã dum churrasco de fim de semana.


Todo mundo conhece bem um desses.

Pense bem então antes de usar esses produtos que prometem eliminar sua querida microbiota bacteriana. Não faça como sua última visita a uma lanchonete de aspecto duvidoso. Não troque o que já é certo pelo duvidoso!



Mestre Gláucio Kenobi é um biólogo meio agrônomo que gosta de compartilhar nerdices com jovens estudantes desde a época em que Lucas Skywalker era calouro.

domingo, 20 de março de 2011

Zumbis - Moda de terror e ferramentas para modelagem de infecções


Prezados Padawans, mais uma atualização nesta bagaça. Desta vez, um post estilo "estudo de caso". Faz dois anos que eu estava no laboratório e alguém me mostrou um capítulo do livro Infectious Disease Modelling Research Progress, intitulado, sem brincadeira: When Zombies Attack!: Mathematical Modelling of an Outbreak of Zombie Infection.


Não, não é Zumbi dos palmares.


O trabalho de matemáticos e estatísticos canadenses ainda começa de forma inacreditavelmente séria. A introdução nos coloca as origens das histórias de zumbis, desde a etimologia, mitos africanos, até as produções modernas do cineasta George Romero e jogos de video-games da Capcom.


E não, não é Cesar Romero.


Os autores então se focam no tipo de zumbi mais atual, lerdo e babaca, com sua origem de alguma infecção biológica. Segundo os autores, o modelo deve assumir um tipo de zumbi mais amplamente usado possível, para que o mesmo não se foque em tipos específicos e pouco difundidos na cultura pop.


Se fizessem modelagem de dinâmica de transmissão do vampirismo, certamente não usariam vampiros deste tipo. Sorry, girls.


Os autores então seguem com a metodologia. A construção das equações é uma parte divertida a mais no trabalho.


Hieróglifos?


O termo S diz respeito à população dos suscetíveis aos zumbis (os vivos), Z à população de zumbis e R aos removidos (algo como "zumbis mortos", mas sem soar redundante). Há outros fatores, como a probabilidade de alguém vencer um zumbi em um confronto, atirando em seu cérebro, ou arrancando sua cabeça; há a probablidade de se morrer por mortes "não zumbis" e a probabilidade de uma pessoa curada morrer naturalmente (isso a tornaria uma zumbi). Todos estes fatores implicam em variações na quantidade de suscetíveis, zumbis e curados em um segundo momento. Estas equações ajudam a predizer como a população será em algum momento no futuro.


Os modelos não levam em consideração que nós contamos com Rick Grimes e sua machadinha - Walking Dead #3.


O trabalho continua criando modelos com várias premissas, como infecções sendo latentes, quarentena e até com uma possibilidade de cura. Não vou abarrotar o post com equações, podem se acalmar.


Este gráfico é o mais otimista do trabalho... Pior que filmes do George Romero.


A conclusão que os pesquisadores chegam, é que, mesmo que haja uma cura, o único modo de prosperarmos é se acabarmos com o problema de uma vez, em uma geração. Isso porque as mortes naturais e por outros motivos do nosso lado, só aumentariam o número deles, já que o vírus/bactéria/patógeno genérico é transmitido por pessoas mortas. Isso, é claro, torna o modelo fantasioso demais para doenças reais, já que essa idéia de que, quanto mais pessoas mortas existirem, mais a doença se propagará, é difícil de encontrar contraponto realista. Mas o trabalho serve para mostrar que, mesmo em doenças fictícias, o único modo de se evitar a pandemia é o esforço conjunto de todos aqueles que podem ser suscetíveis, bem como de outras nações.

Para o blog, o artigo serve para mostrar que a modelagem matemática traz possibilidades de criar cenários que não vemos (como passado geológico, ou futuro com mudanças climáticas), observando como as ferramentas biológicas (a grosso modo: os bichos) respondem nessas realidades.


Seria como mandar um animal ameaçado de extinção para a Matrix e vê-lo lutando Kung Fu.


A modelagem em pesquisas parasitológicas e conservacionistas vem se mostrando uma excelente ferramenta. Os jovens estudantes costumam ter medo de ler coisas sobre o tema quando começam a ver as equações. Só há um modo de contornar este problema: lendo o trabalho. Se você ler desde o início até chegar na equação, vai compreender que os hieróglifos são só representações sintéticas das idéias que os autores estão dizendo em alguns parágrafos, incluindo ainda a beleza da matemática.

Quem acha matemática uma coisa bonita, deve levar a sério um trabalho com matemática e zumbis.

Algumas das referências bibliográficas que os autores usam são inacreditáveis para quem já está acostumado com trabalhos acadêmicos e a exigência de citação de artigos científicos. Vejam vocês mesmos alguns exemplos:

Brooks, Max, 2003 The Zombie Survival Guide - Complete Protection from the Living
Dead, Three Rivers Press, pp. 2-23.

Romero, George A. (writer, director), 1968 Night of the Living Dead.

Capcom, Shinji Mikami (creator), 1996-2007 Resident Evil.

Capcom, Keiji Inafune (creator), 2006 Dead Rising.

Pegg, Simon (writer, creator, actor), 2002 Shaun of the Dead.

Boyle, Danny (director), 2003 28 Days Later.

Snyder, Zack (director), 2004 Dawn of the Dead.

"Peraí, mãe! Tô fazendo meu levantamento bibliográfico!"



Lucas Skywalker é um biólogo que não gosta de filmes e jogos de zumbis, mas que acha divertido difundir o tema, mesmo que lhe tome preciosas horas que poderia utilizar para organizar sua aula de qualificação.

PS: Tenho que agradecer especialmente ao Dr. Bruno Chewbacca por ter me apresentado o trabalho em questão e me ensinado a beleza da matemática na ecologia.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A arte imita a vida


Saudações, prezados padawans! Fiquei afastado do blog por um bom tempo, mas nunca longe o suficiente. Sempre dando alguns pitacos nos posts do Cupim. A verdade é que estive ocupado com o mestrado e com a cerveja. Agora que tenho uma nova residência aqui em Manaus, e que dei uma adiantada nas coisas do mestrado, voltarei a postar com maior freqüência (assim espero).

Como tema deste post, resolvi falar sobre uma coisa que tenho familiaridade: entomologia. Sempre quando digo que faço mestrado em entomologia, tendo ainda que explicar que se trata do estudo dos insetos, não são muitas pessoas que se animam com o fato.



Da próxima vez que disser que estou me tornando mestre, direi que vou ser mestre de capoeira. Além de parecer legal, esse cara daí de cima deve pegar mais mulher que eu.

O que a maioria das pessoas não sabe, é que os insetos são os organismos mais diversos do planeta. A sua assombrosa diversidade de espécies reflete uma diversidade igualmente fascinante de formas, comportamentos e modos de vida. Uma vastidão de adaptações, como pode ser visto no gráfico do livro de Grimaldi e Engel:

Este gráfico sempre causa um efeito de "putz!" em jovens estudantes de biologia.

Para tentar mostrar como os insetos são fascinantes, usarei aqui algumas referências sempre legais de ficção científica, cultura pop e atividades humanas que são inspiradas (ou que pelo menos já existiam antes) nos insetos e outros artrópodes.

Ninguém melhor para começar essa tarefa hercúlea que o monstro xodó da ficção científica das gerações de 80 e 90: o Alien.

Sua simpatia conquistou fãs em todo o mundo.


A criatura inventada para causar horror nos espectadores por simbolizar estupro oral homossexual possui algumas características interessantes a se analizar. Seu ciclo de vida começa na fase de um grande ovo, que logo é aberto e dá lugar a uma criatura bizarra que se assemelha com um aracnídeo.

Ou se assemelha com... outra coisa...

Essa criatura de design questionável agarra o rosto de um azarado qualquer e o infecta com a larva. Essa larva acaba rompendo o tórax da vítima e saindo como uma miniatura de Alien, que logo sairá matando alguns coadjuvantes e figurantes a esmo.

Alguns membros da ordem entomológica Hymenoptera (a mesma que formigas e abelhas) possuem um ciclo de vida mais ou menos parecido com esse do Alien. Os insetos holometábolos (que possuem metamorfose completa) possuem as fases de ovo, larva, pupa e adulto. As "vespas" parasitóides da superfamília Ichneumonoidea, por exemplo, são experts em colocar seus ovos dentro de larvas de outros insetos. Algumas espécies se desenvolvem por fora do corpo da vítima, mas outras desenvolvem sua fase larval devorando a larva do outro inseto por dentro, até romper sua parede corpórea e sair para se acasalar. Imagina se todos os filmes da franquia Alien se passassem com personagens crianças. A natureza parece gostar de cenas um pouco mais hardcores que o Ridley Scott. O próprio Darwin argumentou uma vez que um Deus bondoso e misericordioso não criaria uma criatura como um Ichneumonidae, que infecta imaturos de outros insetos para que sua prole a devore por dentro.

Essa bela criaturinha poderia ter sido responsável por fazer Darwin questionar suas convicções religiosas e publicar suas idéias. Que adorável.

Vale lembrar que os membros da superfamília supracitada não são realmente vespas, visto que não pertencem à família Vespidae. Alguns marimbondos que confundimos com vespas, como "marimbondo-cavalo", também não pertencem à família Vespidae, podendo pertencer a Pompilidae, por exemplo.

Um pompilídeo caçando uma aranha. Em alguns lugares, são conhecidos como "marimbondos-cavalo" ou "bestas-aladas-metálicas-seguidoras-de-satã" devido ao seu tamanho.

Mas a inspiração do alienígena nos nossos queridos insetos terráqueos não pára no ciclo de vida parasitóide. Se lembram de como era o corpo da rainha dos Aliens? Com um abdome gigante que não parava de pôr ovos. Infelizmente não encontrei figuras dessa rainha em específico, mas uma rainha de um cupim qualquer deve evocar a memória da criatura do filme.

Claro que algumas rainhas modernas freqüentam academia, fazem dieta e deixam de usar o controle remoto enquanto seus funcionários continuam no batente.

Partindo para outras referências da cultura pop, temos a franquia de jogos de estratégia Starcraft.

Também conhecido como "a franquia de jogos mais legal de todos os tempos" (Camargos et al., 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011).

Longe de querer explicar a história do jogo (que tem a campanha mais envolvente e interessante que já vi em um jogo de estratégia), devo apenas apresentar uma das raças jogáveis: os Zergs. Além de terem esse nome de espécies de Star Trek, eles são assumidamente (pela Blizzard, empresa criadora) alienígenas insetóides.

Existe uma licença poética sobre genética molecular que dá um pouco da graça da raça. Os primeiros Zergs pareciam larvas de insetos ou grandes miriápodos (as larvas e os Cerebrates). Entretanto, eles possuíam uma incrível habilidade de incorporar o DNA de outras criaturas ao seu, criando assim, variedades bastante distintas a partir de uma larva similar.

As "pesquisas" da raça são "evoluções". As unidades não são "treinadas", são "geradas". As próprias construções da raça são transmutações que os Zangões (uma casta especializada em serviços brutos) realizam em criaturas sésseis.

Os Zergs são uma espécie com um complexo grau de socialidade. A maioria de seus indivíduos não fazem nada que não for ordenado pelos Suseranos, ou pelas Rainhas, ou pela Supermente (uma entidade quase mística que controla todos os Zergs). Toda essa divisão do trabalho, bem como o design das criaturas lembra muito insetos sociais e outros atrópodes.

Temos inclusive unidades no Starcraft 2 (que jogo!) como o Tatu-bomba, que se explode para jorrar ácido nas unidades inimigas (pobres humanos cretinos e miseráveis Protoss super-avançados). E é claro que a natureza já tem alguns bichos que fazem coisas parecidas por aí. Os operários de cupins do gênero Anoplotermes são um exemplo. Algumas espécies de formigas possuem castas suicidas que expelem seu conteúdo gástrico nos invasores das colônias também.

A idéia de alienígenas escravizando outras raças mais fracas também já foi utilizada pelos insetos. Já é bem conhecido o fato de formigas de diversas espécies protegerem agregações de pulgões em troca de fezes açucaradas.

"Eu já disse, dois gramas da sua merda e ninguém sobe nessa planta, rapá!"

A seleção natural ainda favoreceu, em alguns casos, afídeos que possuíssem suas bundinhas cada vez mais parecidas com cabeças de formiga. Isso ocorre porque, nessas espécies de pulgões, a solução açucarada sai muito mais fácil quando uma formiga a "ordenha". As formigas acabam apertando a traseira do pulgão e tirando as fezes achando que era uma colega de trabalho.

"Ei cara, eu já disse pra você parar de cumprimentar a minha bunda."

Os pulgões que possuíam as bundas mais parecidas com formigas eram mais protegidas pelas últimas, por oferecerem mais comida. Logo, durante várias gerações, essa característica acabou se fixando em determinadas populações.

Então a pecuária não é invenção nossa... mas nem a agricultura também. Muitas formigas, besouros e cupins cultivam fungos para sua alimentação. Alguns trabalhos recentes também mostram que alguns moluscos fazem o mesmo. Eu ainda tenho para publicar uns dados de uma larva lepidóptero (mariposa) aquático que cultiva seu jardim de algas para o jantar e ainda rouba mudinhas de outros jardins na sua fase mais moleque.

Temos também alguns insetos que se infiltram em colônias de insetos sociais para serem agraciados como rainhas ou larvas dessas colônias. A idéia é deixar operárias e soldados de outra espécie trabalharem enquanto a espécie pilantra recebe comida na boca, limpeza, toda a última temporada do House e massagem tailandesa sem ter que trabalhar.

Mais ou menos como este cara faria ao entrar nos Estados Unidos.

Já li em algum lugar também sobre alguma espécie de aranha (não um inseto, mas um artrópode legal, mesmo assim) que ataca uma patrulha de formigas, leva a cabeça de uma para comunicar com os soldados da entrada, tocando as antenas da cabeça com as antenas do soldado vivo, se infiltrar dentro da colônia e matar quem quiser.

Mais ou menos como este cara fazia.

Temos também aranhas que vivem em beiras de rios, que constroem suas teias logo acima de onde os insetos aquáticos mais desafortunados costumam emergir. Eu mesmo já tive o prazer de observar formigas no cerrado jogando o lixo da colônia no rio que passava logo ao lado da porta de trás da mesma. Poluição de córregos já é um problema antigo. E o que dizer dos besouros bombardeiros, os únicos organismos no planeta que criam reações de explosões para dizimar seus inimigos?

"Chineses uma ova, nós descobrimos primeiro!"

As larvas de Neuroptera que se enterram na areia e criam armadilhas para formigas parecidas com a do Sarlacc do Star Wars são fascinantes. Algumas ainda jogam areia nas formigas que tentam subir. Imagine o Sarlacc com um fuckin' ataque a distância!

"Que venha o Império Galático e a Aliança Rebelde. Eu atiro areia, otários!"


Infelizmente minha paciência está se esgotando, mas a quantidade de coisas legais que insetos fazem não. Nem falei dos grilos, esperanças, cigarras e larvas de tricópteros que cantam por estridulação, não falei dos tricópteros que constróem casulos portáteis ou fixos que podem ser roubados por outros indivíduos da mesma ou de outras espécies. Nem falei dos gerrídeos, percevejos aquáticos (que deslizam sobre a superfície) que caçam em um padrão parecido com ataques de lobos, etc. Nem todas as referências faziam parte da ficção científica ou da cultura pop necessariamente, mas eram exemplos interessantes para mostrar.

Mais do que isso, acredita-se que a maioria dos insetos ainda são desconhecidos. Mesmo as espécies conhecidas não são completamente estudadas, no que se refere aos seus hábitos de vida, comportamento, distribuição, signo, cor predileta e orientação sexual.

Não é de se espantar que muitas coisas que criamos, como nossas obras de ficção ou nossos avanços tecnológicos se inspirem nos insetos. Nós sempre olhamos para a natureza em busca de resposta, e como a maior parte da natureza são artrópodes, há uma grande probabilidade de copiarmos os insetos em muita coisa. Talvez até alguma peça shakespeareana tenha ocorrido antes com uma linda abelha rainha e seus 15 zangões apaixonados em seu amor proibido. Brincadeiras a parte, fica por aqui minha contribuição para o blog.


Suruba: uma arte muito antiga.





Lucas Skywalker é um entomólogo ferrado que encontra tempo na sexta a noite, morto de sono, para atualizar o blog.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Figuras de Ação e Viagem

Muito bem pessoal mais uma atualização, que coisa não? Esse blog nunca foi tão atualizado como atualmente. Retomando o post anterior, eu já entreguei o boneco do Palpatine para o Márlon e o Mace Windu ficou para o Marcos, muito em breve você receberá seu presente ai na sua casa.

Essa semana quando fui comprar os bonecos para presentear esses excelentes leitores do Biólogo Nerd, fiquei a me deliciar com a infinidade de bonecos na loja de brinquedos. Devo ter ficado umas duas horas na loja, até que escolhi os dois bonecos, só que inesperadamente eu encontrei uma joia rara. Ele olhou pra mim e eu pra ele. Ele me falou - telepaticamente - me compre, agora! Eu não passei no teste de vontade e comprei. A partir desse momento resolvi começar a minha coleção de Figuras de Ação, não é boneco, hehehe.

Então deem as boas vindas para o Dr. Spock, uma figura de ação muito, muito bem feita. Seguem as fotos.

Na caixa.
- Estou enjaulado.


Livre e imponente!
Vida longa e prospera.

Vida longa e prospera (2).
...
Dr. Spock é o primeiro de muitos. Essa figura de ação é do Spock velho que aparece no final do novo filme do Star Trek. Muito legal.

Continuando com o post. Esse final de semana estou saindo de viagem para um local, muito, muito, muito distante. Vou fazer um trabalho de consultoria na região noroeste do Pará, especificamente na cidade de Oriximiná. Devo ficar ausente do blog e da faculdade uns 30 dias. Durante esse tempo o Lucas vai dar continuação as atualizações e postagens no blog. As vezes, ou quando o celular estiver na área, vou twittar algumas coisas. Ou seja, sigam-me.


Exibir mapa ampliado

Tá vendo esse negocio azul e grande? Então, é o rio Amazonas. A cidade é essa ai, mas eu vou estar no meio da floresta então, um tanto quanto incomunicável. Continuem acessando e divulgando o blog, abraços e vida longa e prospera para todos vocês.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ganhadores dos prêmios

Muito bem, no meu post Identificando formigas ao som do NerdCast, eu fiz uma brincadeira. Quem encontrasse algo nerd em uma das fotos do post iria ganhar um prêmio. A foto era essa aqui.

Muitas pessoas não souberam o que era. Mas, prestem atenção, lá no fundo. Em cima da mochila, que está em cima da cama. De longe dá para ver que é um LIVRO! Muito bom... mas, que livro?

Duas pessoas acertaram:

        Marcos Queiroz disse...
        É o Retorno do Rei ali em cima! Há, quero meu presente!
        13 de janeiro de 2011 19:35

       E o professor Márlon do Blog do IQ UFG: http://blogdoiqufg.blogspot.com/

Esses dois exímios nerds, vão ganhar nada menos que bonecos do Star Wars.
Mace Windu e o Imperador 


Imperador Palpatine

Mace Windu e o Imperador (2)





Mace Windu 
Os ganhadores irão receber em breve e em mãos seus prêmios. Obrigado e continuem acessando e divulgando o Biólogo Nerd.




terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Bonde do Hexapoda

Continuando com os videos, meu parceiro de blog o Lucas, me mostrou um video sensacional feito por alunos. Não sei se são de entomo, mas eles trabalham com zoologia. O que importa é que a música e o video ficou muito criativo.

Espero que gostem. Semana que vem irei publicar os vencedores da pergunta que fiz no post: Identificando formigas ao som do NerdCast. E fotos de seus prêmios. Abraços!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Isso que são termos técnicos

Olá nerds, hoje não tenho nenhum conteúdo meu mesmo para publicar, mas um amigo meu de tempos remotos, me enviou dois videos sensacionais. Para os biólogos que já fizeram geologia ou que irão fazer, e todas as outras pessoas que gostarem dessa área, vão aprendendo os termos corretos com essa cara ai. Muito bom.

Abraços e comentem!



Esse cara anda fazendo outras coisas menos estudar.
Beleza capião!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Enquanto isso no termiteiro do Cupim: Identificando formigas ao som do NerdCast

É isso mesmo nerds, vou mostrar para vocês como é maçante ficar identificando milhares e milhares de formigas o dia todo, no entanto essa labuta se torna mais agradável ouvindo vários NerdCast.
Explicando melhor. Nós estudantes de biologia, e todos os outros universitários, somos quebrados, falidos, pedintes e vários outros adjetivos. Ou seja, somos todos (ou grande parte) dependentes dos pais. E, tentando fugir dessa situação deplorável utilizamos um pouco dos conhecimentos adquiridos durante a faculdade, não é na faculdade, para ganhar uns trocados.
Pessoas que aprender a identificar alguma coisa, no meu caso insetos, pode pegar alguns trabalhos de consultoria para fazer mesmo não sendo formado. E com isso vai fazendo um dinheiro, as vezes pouco, as vezes muito e assim vai.
Identificação de formiga não é difícil, depois que se pega o jeito fica moleza. O f#@% é a quantidade de formiga, tem potinhos que chegam a ter mais de mil formigas. E o pior, são muitos potes.
O que eu costumo fazer enquanto identifico meus insetos é ouvir inúmeros NerdCast (quem não conhece não é nerd!), hoje eu tirei o dia para ouvir os que tratavam de trabalho. Entre eles, NC-82: Nerd Rico, Nerd Pobre e o NC-160: Nerd Rico, Nerd Pobre 2. O bom desses dois episódios é a presença do Sr.K que fala um monte de coisas engraçadas. Eles também comentam bastante de bolsa de valores, que eu gosto muito, e sobre educação financeira.
Além desses NCs, eu já ouvi vários outros. Eu recomendo ouvi-los a qualquer momento. São muito bons para passar o tempo e muito informativos.   
Link do site do Jovem Nerd: www.jovemnerd.com.br
Fotos abaixo e em baixa qualidade porque tirei na webcam.
- Atenção rainha cupim, comprar câmera digital urgente!

 Olhando algumas formiguinhas na lupa. Quem descobrir algo nerd nessa foto vai ganhar um presente.

- Alô, capitão Nascimento? Estamos cercados, formigas por todos os lados.
Elas estão tudo tomando banho. Parece aquelas câmaras de criogenia humana. Bizarro. 

 Ouvindo NerdCast no Jovem Nerd.

Eba, sopa de formiga! Gostoso...